sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Tristeza e melancolia paulista

Por Mauro Kinjo

A festa já não é mais a mesma. Isso é evidente. Os anos de glória ficaram no passado, e é cada vez mais difícil de imaginar que os estádios paulistas voltem a ser o que eram. Querem globalizar o nosso futebol, fazer de conta que vivemos na Europa e que nossa cultura não vale um tostão.

Como grande apreciador deste esporte, fico feliz por ver o futebol do Rio de Janeiro se reerguer. Jogadores interessantes, arquibancadas lotadas, menos dificuldade de aceitar o que somos e como reagimos às coisas. No entanto, é extremamente difícil de engolir que nós paulistas, que até pouco tempo atrás nos gabávamos de uma suposta superioridade futebolística, estamos fazendo uma festa bem menos colorida em nossos estádios que nossos vizinhos cariocas.

Uma das origens do problema é antiga e bem conhecida. Final da Supercopa de Futebol Júnior, 1995, jogo entre Palmeiras e São Paulo. Após a batalha envolvendo os torcedores das duas equipes, transmitida ao vivo pela TV Globo, a Federão Paulista e a Polícia Militar de São Paulo começaram a tomar as rédeas do espetáculo e a transformá-lo em um circo à sua imagem.

Hoje, a polícia não deixa os times de menor expressão mandarem as partidas em suas acanhadas canchas, mas permite que times grandes realizem jogos em estádios igualmente pequenos. A PM deveria estar para proteger e manter a ordem. Aonde quer que seja. E quando ela não garante a segurança do público presente, assina o próprio atestado de incompetência absoluta.

Até quando teremos que aturar incompetentes assumidos no poder?

A Federação por sua vez, proíbe a entrada de faixas, bandeiras, instrumentos musicais e até guardas-chuva e papel picado. E o pior, com o argumento de que estes materiais podem causar atos violentos nos estádios, ou nas suas cercanias.

Na partida entre Nacional de Medellín e São Paulo, mais um chilique de Galvão Bueno e seus comparsas em relação ao muro de policiais que se formam quando um jogador se aproxima para cobrar o escanteio. "É uma vergonha. A Sul-americana precisa acabar com isso!", esbravejava o veterano narrador. Minha dúvida é: será tão difícil entender que o problema da violência é uma questão social, e não futebolística?

Enquanto 'nós' paulistas olhamos para o futebol do primeiro mundo e sentimos inveja, os cariocas e os residentes de outros estados continuam festejando a forma brasileira de ser e de torcer, de quarta e domingo, sem interferências de quem nunca pisou em uma arquibancada.

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