sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

AQUECIMENTO PRECIPITADO

Por Gabriel Brito

É com grande expectativa que os torcedores aguardam pelo retorno do futebol em suas agendas. Não é para menos. Quarenta e cinco dias sem jogos nos levam mesmo a fortes crises de abstinência e fazem-nos contar nos dedos os minutos restantes para o reinício de tudo. Porém, não adianta, nem para torcida nem para os clubes, que as equipes voltem a campo antes de completar uma pré-temporada decente, capaz de colocar o time em ponto de bala desde a estréia até as longínquas rodadas finais do Brasileirão. É pedir para antecipar as frustrações.
Se na Europa, onde se joga entre 50 e 65 partidas por temporada, os clubes têm no mínimo um mês inteiro só para os trabalhos preparatórios (o que inclusive justifica a menor carga de treinos que existe por lá durante o ano), por que no Brasil, onde pode-se alcançar 80 partidas de janeiro a dezembro, se dão apenas duas semanas de preparação?
O pior de tudo é que as conseqüências já são conhecidas: má qualidade dos jogos iniciais, times se arrumando no meio do campeonato, jogadores estreando na mesma situação, lesões em atletas ainda despreparados para a exigência física dos jogos e por aí afora.
Nessa situação, quem começa mal usa (com razão) a falta de tempo como justificativa dos maus resultados e apresentações. No entanto, com a cobrança de mídia e torcida, as diretorias não agüentam a pressão e para satisfazer as cornetas de plantão, demitem o treinador e jogam fora o pouco que já tinha sido desenvolvido. Chega o novo professor, que indica novos jogadores e comissão técnica e a equipe precisa se reorganizar outra vez. Nisso, o rival melhor armado já está lá na frente da tabela, a paciência da torcida encurta e aquele bla-bla-bla de que as equipes precisam de organização e respaldo para trabalhar é esquecido. Todos querem resultado e pronto.
É essa uma das formas de funcionamento da máquina de moer times, jogadores e técnicos que opera no futebol brasileiro. É estranho, pois em tese ninguém sai ganhando com isso, certo?
Errado. Para federações estaduais e TV, o importante é o circo voltar logo à ativa e que recomece o quanto antes a maratona de jogos. Entendamos: as federações, em geral feudos de cartolas que querem mamar no futebol até a última gota de leite, querem mesmo é inchar os estaduais, para assim vendê-los por algumas moedas a mais e reafirmar seu poder no quadro do futebol nacional. Se isso prejudica o restante da temporada não parece interessar à CBF, pois devemos lembrar que são os presidentes de cada federação local que (re)elegem o mandatário da confederação.
Em relação à televisão, o assunto é outro e já conhecido: a velha (e medíocre) guerra de audiência. Afinal, quem tem os direitos dos jogos não pode ficar dois meses levando pau e perdendo público no horário nobre da quarta-feira. Posto tudo isso na mesa, a conclusão fica fácil. Aqueles que não são parte do espetáculo, mas pagam por ele, impõem seus interesses e os que são o próprio espetáculo apenas obedecem. É como se a Globo colocasse no ar os primeiros capítulos de suas custosas novelas da vida irreal sem que os atores tenham decorado os textos por completo, coisa que obviamente não acontece.
A saída é uma só: ou os clubes e jogadores começam a entender sua verdadeira importância e exigem direitos e condições ideais de trabalho, ou tudo continuará na mesma, pois quem se beneficia desse cenário é que não vai querer mudá-lo.

2 comentários:

Felipe Bigliazzi disse...

BEM QUE O ROMARIO PODERIA LIDERAR UM SINDICATO DOS BOLEIROS PARA PEITAR ESSES PUTOS. MAS DIGO MAIS, AINDA BEM QUE VOLTOU O FUTEBOL. DEZEMBRO É UM MES DEPRIMENTE, POIS NAO TEM FUTEBOL E TEM A FESTA MAIS HIPOCRITA DO MUNDO CHAMADA NATAL.

Gabriel Brito disse...

É isso mesmo!! A vida sem o futebol nao é de nem longe a mesma, mas que é muito mais válido e inteligente ter os times bem preparados, até porque aqui se joga muito, isso também é verdade.