terça-feira, 25 de março de 2008

Futebol, violência e as enganações de sempre

Por Gabriel Brito

Não é de hoje que se tenta tomar medidas de combate à violência no futebol. Desde a eclosão da onda de brigas de torcida, dentro e fora dos estádios, em meados dos anos 90, seguiram-se tentativas de controlar e eliminar tais barbáries do cenário esportivo nacional.

Todas, absolutamente todas, fracassaram inapelavelmente. A mídia se fartou de explorar o tema, promotores e policiais ficaram famosos por aparecerem nos meios de comunicação listando providências que seriam tomadas e trariam de volta aos campos a tão desejada paz.

Não vamos aqui entrar nos detalhes das propostas anti-violência feitas nesses anos todos. Mas podemos resumir: nenhuma até agora mudou de verdade a realidade nos estádios. No máximo transferiram os palcos de guerra para localidades mais afastadas, onde exercer qualquer controle se torna ainda mais difícil. Ah, também serviram para alavancar a carreira pública de algumas figuras que se notabilizaram por (supostamente) combater esse mal, empreitada na qual falharam estrepitosamente até hoje.

Nos últimos tempos, bem recentes, criou-se uma onda de retorno às arquibancadas, crescimento de público e até renovação nas torcidas. A subida na média de público do Brasileiro 2007 atesta isso e o espetáculo promovido por algumas parcialidades não era visto há um bom tempo por aqui também.

Seria o retorno da festa ao futebol, do futebol à festa, dois parceiros que deveriam caminhar de mãos dadas sempre? Não é bem assim. Na maioria dos estados, a polícia e federação local, dentre outros partícipes, já se deram conta de que a festa deve mesmo se manter ligada ao futebol, pois faz parte da essência do espetáculo, além de ser muito mais atraente para quem vê, seja in loco ou da poltrona. E também deveria ter a mesma consideração por parte da TV, que pode lucrar mais vendendo um produto que é sucesso de público do que o contrário.

No entanto, ainda há um lugar onde predominam o clima de tensão, amargura e repressão: São Paulo. Não é de surpreender, pois se trata do estado tradicionalmente mais conservador e reacionário do país. O que mais se mete a pensar ser primeiro mundo também, apesar de conceder à grande maioria de seus cidadãos uma vida de 3º, 4º mundo.

Na terra da garoa bandeira não entra. Faixa e instrumento musical só se for de organizada, porque torcedor comum aqui não pode se manifestar, não pode nada, só aquele que a própria polícia acusa ser causador de problema, ou seja, o organizado. Jornal? Nem pensar, pois, na visão de quem faz futebol em São Paulo, trata-se de uma arma com potencial de destruição em massa. Papel picado? O mesmo problema do jornal. Faixas e cartazes se manifestando contra algum dirigente? Esqueça, pois liberdade de expressão parece ser um direito não muito bem esclarecido por aqui.

Enquanto isso, o que vemos nos outros estados é o oposto total. Faixas, fogos, bandeiras e toda pirotecnia que se imagine são permitidas aos torcedores que querem levar mais do que suas vozes como forma de apoio e celebração ao time que amam. Claro, talvez tenham percebido nessas terras que o problema não está nos objetos, mas sim, e obviamente, nas pessoas.

Não precisam criar mais leis, projetos, comissões de paz. Já existe amparo legal (sempre existiu na verdade) para combater crimes, brigas e quaisquer delitos ligados ao futebol. Aliás, o esporte não está à margem da sociedade em termos de responsabilidades e de leis. Então, o sujeito que comete uma infração no estádio pode ser punido da mesma forma que aquele que o faz no cinema, no parque, na rua, em qualquer lugar.

Mas nossos 'visionários' da organização do espetáculo pensam diferente. São escravos de novas leis, resoluções, grupos de discussão, comissões e o escambau, só para dar satisfação à sociedade daquilo que não precisa mais ser discutido, somente aplicado.

Publicado no site do Correio da Cidadania.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Motivações*

Por Leandro Iamin

Penúltima rodada do Brasileirão de 2007. Porto Alegre. Após uma falha ao anular gol legítimo do Palmeiras, o Inter-RS vai para o vestiário vencendo por 1 a 0, em gol possivelmente faltoso de Iarley.

Algo aconteceu nos vestiários aquele dia, algum bacumbufo envolvendo diretores e o trio de arbitragem, mas sabe-se que, de qualquer forma, o Palmeiras voltou para o segundo tempo derrotado, tímido como quem broxou na frente da namorada.

A exemplo, aliás, do que acontecera em Belo Horizonte, rodadas antes. Por conta de erros do árbitro, expulsando Pierre e ignorando penalti claro, o alviverde voltou tão sem gás que tomou de 5x0.

Naquele dia, em Porto Alegre, a derrota foi "só" por 2x1. Um pouco mais tarde, no horário das 18h10, o Santos de Luxemburgo virava um jogo contra o Paraná Clube. Estava 2 a 0 para os paranistas, e nos momentos finais, deu-se a virada.

Penso, e não há como não pensar, em como Caio Jr. reagiu nos vestiários do Beira-Rio e do Mineirão. De certo, deu razão ao time, colocou na cabeça dos atletas que haviam sido vítimas, e foi assim que o verdão atuou: achando-se, burramente, protegido das críticas, dispensados da luta, por serem vítimas do árbitro.

Luxemburgo faz outra linha. Paternalismo não é com ele. Nesse domingo, em Bragança, ele elogiou o árbitro para a TV logo ao fim do primeiro tempo. De certo que não aliviou seus comandados, como, de certo, no dia-a-dia, exercita a competitividade e o orgulho do plantel.

O resultado foi uma virada que fez o palmeirense babar. Inimaginável que isso acontecesse pouco tempo atrás. E podemos especular sobre os estilos e as maneiras de se motivar um grupo de futebol.

Caio Jr., que motivou até um Cianorte contra um Corinthians poderoso, mas sucumbiu no fim, pecaria em mais essa? Luxemburgo, das viradas de fôlego, como a série do Corinthians no Paulista de 2001, é o maior responsável pelo espírito de luta do Periquito?

Pra mim, sim e sim.

* Texto publicado no Blog do jornalista Mauro Beting.