quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Futebol estatizado?

Por Gabriel Brito

Afundado em dívidas de todo tipo, o futebol argentino viveu dias de convulsão em seu seio: sufocados, a federação local e os clubes romperam unilateralmente o contrato que outorgava à empresa TSC (Televisión Satelital Codificada) os direitos de transmissão do futebol hermano, negociando-os imediatamente com o Estado argentino. A justificativa? Descumprimento contratual, uma vez que os clubes resolveram se declarar lesados pelos valores recebidos pelos jogos.

De acordo com o contrato com a emissora, dona dos jogos desde 1991, pagava-se 268 milhões de pesos anuais, incluindo-se todas as divisões e a exclusividade dos gols da rodada até a meia noite de domingo, até que os mostrasse em primeira mão no programa ‘Fútbol de Primera’, que vai ao ar às 10 da noite. No acordo com o governo, o valor subiria para 600 milhões de pesos anuais, redentor para as combalidas finanças das equipes locais, e sem exclusivismos contratuais.

A operação contou com uma fortíssima intervenção de ninguém menos que o casal Kirchner. A partir disso, podem-se encontrar diversas razões que levaram o próprio governo a entrar de sola na questão. Com as dívidas, o Sindicato dos Jogadores do país platino já tinha conseguido liminar que adiou o início do torneio de 14 para 21 de agosto. Entretanto, diversos fatores compõem o complexo jogo político de interesses e poder não só no futebol como também em termos de mídia.

Explicando


Desde o início da década passada, o futebol argentino ficava nas mãos de duas empresas: a citada TSC e também a TRISA (Tele Red Imagen S. A.), sendo que o capital de ambas é dividido igualmente pela Torneos y Competências (TyC, emissora que transmite os jogos) e o grupo Clarín, maior conglomerado comunicacional do país e que recentemente entrou em rota de colisão com o governo dos Kirchner.

Não é o caso de entrar nos pormenores da ‘pelea’ do casal K com as Organizações Globo do Rio da Prata, mas o ponto que mais a fermentou já vem de antes, quando o hoje deputado Nestor elaborou uma nova lei de radiodifusão (ainda em tramitação) que visa combater monopólios e oligopólios e reservar mais concessões a emissoras de caráter social ou comunitário, o que obviamente desagrada aos barões da comunicação, tanto de lá quanto de cá.

Por lá, é notório o conflito entre o casal que governa a Argentina desde 2003 e o grupo Clarín, exaltado desde as derrotas governamentais para seu setor ruralista. Com a situação de penúria do futebol local, foi feita a articulação entre o presidente da Asociación de Fútbol Argentino (AFA) Julio Grondona e a Casa Rosada, que cai como luva a ambas as partes no momento.

Pelo acordo, que não inclui a seleção nacional, o governo adiantará cerca de 100 milhões de pesos para dívidas mais imediatas e contingenciará outros 200 milhões para pagamentos de outras pendências dos clubes, inclusive com o próprio cofre público. A validade do acordo seria de 10 anos e as partidas, por ora, televisionadas pelo Canal 7, público e aberto, e também pela TV Encuentro, pública mas a cabo.

Para gerir as transmissões, governo e clubes trabalharão em conjunto através de uma sociedade mista, podendo revender os direitos para outros países e até mesmo para outras redes privadas da Argentina, de modo que, como diz Nestor, “o Estado não perca um único centavo”.

De quebra, o governo, até pela falta de estrutura para transmitir todos os jogos desde já, poderia ceder diversas partidas pelo país a emissoras regionais, o que também serviria para prestigiar e desenvolver uma gama bem mais ampla de canais e profissionais de comunicação e mídia.

“Fútbol grátis y popular para todos”

Em um claro contexto de proveito político da situação por parte do governo, a medida pode no final das contas ser altamente revolucionária para os times e torcedores. Em sua argumentação, Kirchner (que já trocou camisas de seu Racing Club com o corintiano Lula) disse que o futebol é um inquestionável bem cultural do país e que todos os cidadãos devem ter direito a assisti-lo sem ter de pagar por isso.

Explica-se: a TyC é um canal a cabo que transmite seis ou sete partidas por rodada. As outras três ou quatro (são dez ao todo) ficam por conta de seu braço TyC Max, neste caso em sistema Pay Per View. Por razões óbvias, os grandes jogos sempre ficavam com o segundo, de modo que para assistir às melhores partidas o torcedor deveria desembolsar alguma quantia (além da própria assinatura de TV a cabo).

E mais: a TSC, no que configurou parte das queixas de quebra de contrato, renegociava os jogos de PPV para outras TV’s a cabo. Dentre elas, se incluíam a Cablevisión e a Multicanal, também de propriedade do grupo Clarín. Isto é, como escrito por Agustín Colombo, do Diário Critica, “as operações se vendiam e pagavam no mesmo escritório. O Grupo Clarín, dono de metade da TSC, vendia jogos da rodada ao... Grupo Clarín”.

Tal relação de evidente monopólio sobre o futebol já havia gerado processos por concorrência desleal no órgão de defesa do consumidor local. Pelo novo contrato, fica extinto o PPV e obriga-se todas as partidas do Boca Juniors e do River Plate de serem mostradas em TV aberta. Vale lembrar que nem a final do último torneio (Vélez e Huracán) tinha sido veiculada para além da TV a cabo.

Até nessa meteram o Tio Sam

Marcelo Bombau, presidente da TSC, além de dizer que tomaria as medidas cabíveis na justiça, avisou que o ‘sangue ainda chegaria ao rio’, em claro aviso de que a empresa não entregará facilmente o seu ouro. Tanto é assim que simplesmente recorreu à embaixada dos EUA para pedir auxílio, alegando que interesses norte-americanos também eram lesados (três dos quatro acionistas da TyC são ianques).

A discussão, ainda de baixa repercussão por aqui, ganhou as ruas de todo o país, com todo tipo de opinião a favor e contra. A favor, a idéia, incontestável na visão deste colunista, de que por se tratar de patrimônio e expressão cultural da nação não pode de modo algum ficar em mãos exclusivas da TV a cabo, que impede o torcedor de ver jogos gratuitamente, algo difícil de se encontrar pelo mundo, ainda mais em países subdesenvolvidos. De outro, a também irrebatível tese de que existem maiores preocupações sociais para o governo local, o que no caso argentino é bastante claro.

Como resposta, o governo diz que apertará a fiscalização sobre as finanças dos clubes, criando um setor de seu tribunal de contas exclusivamente voltado a este fim e, como citado, não perderá um centavo do dinheiro investido na empreitada.

De toda forma, o rompimento pode gerar uma enorme onda de rediscussões sobre direitos televisivos, especialmente em países, como o Brasil, que sofrem do mesmo tipo de domínio por parte de uma emissora. Sendo o futebol um bem cultural e popular, parece válido que a partir de tal conceito se entenda que o Estado pode ter ingerência em seus rumos, tais quais em outros serviços públicos, especialmente se não se resume a apenas molhar a mão dos clubes e salvá-los da falência, e ainda por cima pagando melhor que o mercado.

Um debate que por aqui não seria menos polêmico e doloroso. Mas que torcedor não sonha em se ver livre de ter de esperar até as 10 da noite e o fim da novela para ver seu time do coração jogar? Não me parece que o futebol seria menos interessante com Palmeiras x Corinthians ao vivo na TV Cultura, seguido de um Fla-Flu na telinha da TVE e por aí afora.

Publicado também no Correio da Cidadania.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A Copa do Mundo é nossa. Ou 'deles'?

Por Gabriel Brito

No último dia de maio, a FIFA anunciou em Zurique as 12 cidades brasileiras que sediarão a Copa do Mundo de 2014, oficializando quais localidades também receberão maiores injeções financeiras até a data da competição. Como se sabe, as nomeadas foram São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza, Natal, Cuiabá e Manaus.

A lista por si só já traz graves injustiças e deixa claro o caráter ‘politiqueiro’, talvez único na história dos mundiais, das escolhas, excluindo cidades que de diversos pontos de vista, principalmente o esportivo, mereciam ser contempladas. Nunca se viu tantos políticos e agregados em reuniões da entidade máxima do futebol, a ponto até de constranger os altos executivos da FIFA.

Quanto ao orçamento do evento, pouco adianta agora tentarmos praticar exercícios de imaginação e precisar o montante a ser despendido. Sabe-se que a FIFA faz diversas exigências de garantias governamentais para assegurar a realização da Copa do Mundo, o que já foi acatado pelo nosso Planalto e significa que uma grande, gigantesca, sangria pode ser infligida aos cofres públicos.

Tal como sempre procede, a entidade presidida por Joseph Blatter (suíço, mas da mesma estirpe das velhas raposas que habitam os corredores do poder esportivo) não se limita a exigências somente no que tange as quatro linhas. Serviços de alto nível em transportes, hotelaria e comunicação são pontos dos quais não se abre mão e nos quais o Brasil se encontra em baixo, em alguns casos péssimo, estado de desenvolvimento.

Isso significa que teremos de investir bilhões na melhoria desses serviços, ou até mesmo na criação de alguns deles em determinadas praças. Dessa maneira, o orçamento do mundial brasileiro deverá superar de forma estratosférica seus antecessores, como a Alemanha-2006 (20 bilhões de dólares gastos, sendo 16 bi privados) e África do Sul-2010 (cerca de 4 bi ao todo).

Segundo informou o Diário Lance!, o custo geral do evento por aqui deve ficar na casa de 80 bilhões de reais, impressionante logo de saída e que assusta quando, reitero, lembramos da eficiência brasileira nas ciências contábeis, como se viu no Pan 2007. No entanto, apesar de aparentarem, e serem, valores absurdos, muitas das obras em infra-estrutura se fazem realmente necessárias no país, como é o caso do metrô em Porto Alegre.

Entretanto, sendo irreversível a loucura de entregar uma Copa do Mundo na mão de quem deveria estar preso, como é o caso de algumas cabeças dessa empreitada, a sociedade brasileira deverá ficar vigilante ao que se fará com seus rendimentos como nunca se acostumou a estar. Sabedores de seu compromisso assumido perante a FIFA de fiador do mundial, não será difícil ver o governo pressionado por comitês organizadores e políticos requisitando mais verba para seus projetos.

Prova de que o hiperbolismo pauta nossos ‘capitães da copa’ foi o encontro realizado em Brasília, entre o governo federal e os governadores e prefeitos das cidades e estados sedes. Na audiência, foram pedidos entre todas as cidades mais 20 bilhões de reais de aporte oficial nas obras de infra das respectivas cidades. E olha que o governo já havia direcionado R$ 7,7 bilhões do PAC especificamente voltados ao mundial, o que ficou conhecido como PAC da Copa.

Até o próprio ministro dos esportes, Orlando Silva Junior, íntimo da cartolagem nacional, tentou colocar um freio, pedindo aos distintos homens públicos que se concentrem apenas em projetos viáveis e que sejam capazes de deixar um legado à região. Pois é, foi preciso reforçar tal questão. E não sem razão, pois o prefeito de Cuiabá, Wilson Santos (PSDB), já havia dito que a cidade não estava preocupada em construir algo cuja utilidade pública fosse posteriormente garantida. Créditos a um dos grandes desmatadores do país, Blairo Maggi, com seu saco sem fundo de dinheiro proveniente de pedaços da Floresta Amazônica e do Cerrado que já não existem. Enquanto isso, a cidade e o estado seguem sem possuir um time sequer na terceira divisão nacional.

Posto isso, não fica difícil imaginar que os governantes terão uma boa margem de manobra para pressionar o governo, ainda mais em época de crise econômica sem fim previsto, o que também espanta a iniciativa privada de investir com convicção nos projetos – até porque já está acostumada com os mimos do governo e do BNDES no apoio a ela para o cumprimento de sua parte nas ‘parcerias’ que tanto já testemunhamos.

Por mais espetacular que seja abrigar uma Copa do Mundo, e por mais que tal ocasião seja um sonho para os fãs do futebol, não dá pra engolir que a graça tenha sido trazida pelas mesmas pessoas que infestam o Senado de podridão política e institucional, pelos mesmos que faliram o futebol nacional (quando não o roubaram diretamente) e outros ilustres, como Francisco Mussnich, do Comitê Organizador, cunhado e advogado do inefável Daniel Dantas – o próprio. Faz parte da mesma excrescência do projeto olímpico Rio 2016, sem falar do já ocorrido Pan de 2007, que por si só explica bastante nossos temores.

Como disse no início do texto, os tais 80 bilhões de orçamento devem ser encarados apenas como chute, uma mera previsão inicial, sujeita a todos os sabores dos lobbies políticos e justificativas escoradas na crise mundial, que, aposto, fará a iniciativa privada tirar o pé como ninguém ainda alerta. Mas, como diz o jargão futebolístico, dá pra dizer de antemão que esta costuma ‘pipocar’ feio quando a maré não está a favor.

Portanto, brasileiros, preparai vossos bolsos (parte 1543465).

Publicado também no Correio da Cidadania.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Quando a política e a burocracia valem mais que a vida

Por Kadj Oman, www.vailateral.wordpress.com

Ontem, 03 de junho de 2008, Corinthians e Vasco decidiram no Pacaembu uma das vagas à final da Copa do Brasil. Ontem, 03 de junho de 2009, na Marginal Tietê, mais um torcedor foi vítima da violência que permeia não só o futebol, mas toda a sociedade. Uma violência que as capas de jornal e as telas de TV não demoram em taxar de “irracional”, “gratuita” e “criminosa”, no que até chegam a ter razão em alguns momentos, mas que nunca buscam explicar e compreender na esfera que diz respeito ao que mais importa: a segurança da vida dos torcedores de futebol.

A informação oficial do promotor de justiça Paulo Castilho e do major da Polícia Cipriano Rodrigues, responsáveis pela segurança no jogo de ontem (e no caso do promotor, pelas políticas de segurança relacionados a jogos de futebol em São Paulo), segundo o jornal Lance! de hoje, é de que “15 ônibus com cerca de 800 cruzmaltinos chegaram pela Rodovia Presidente Dutra. Na altura de Guarulhos, eles foram acompanhados por 20 policiais militares de moto”.

Paremos neste ponto. Não é preciso ser um gênio da matemática para perceber que 20 policiais são mais do que insuficientes para fazer a escolta de 800 torcedores. Ainda mais quando, segundo o próprio promotor, sabia-se da intenção de emboscada entre as torcidas, graças à denúncia anônima que ele mesmo recebeu e por conta da qual impediu os vascaínos de deixarem seus ônibus nas sedes de TUP e Mancha Alviverde, torcidas do Palmeiras aliadas às vascaínas. A idéia dos cariocas era ir a pé ao estádio. Paulo Castilho disse à Polícia para não permitir e ordenou a escolta dos ônibus até o Pacaembu.

No caminho, voltando ao texto do Lance!, “eles acessaram a Marginal do Tietê e, quando chegaram à Ponte das Bandeiras, Zona Norte de São Paulo, cruzaram com quatro carros e um ônibus de corinthianos. De acordo com o major Cipriano Rodrigues (…), os vascaínos conseguiram se desvencilhar da escolta. Tiros e pedaços de paus foram usados no conlfito”.

Não bastasse o absurdo que é não perceber o possível cruzamento entre ônibus de torcidas rivais na Marginal Tietê, via mais do que conhecida de acesso ao estádio, faltou ao comandante contar um pouco mais sobre que ônibus e que carros de corinthianos eram esses, e explicar melhor como os integrantes das torcidas chegaram ao confronto.

Fora o já sabido número ridículo de policiais na escolta vascaína, há muitos outros problemas que levaram ao assassinato do torcedor. Comecemos pela própria escolta. Como a Polícia leva 15 ônibus de torcedores até o estádio sem fazer uma revista em seu interior? Se esta foi feita, como não foram descobertas as barras de ferro, pedaços de pau e armas de fogo utilizadas no confronto? Descaso? Despreparo? Ou a mesma falta de entendimento dos torcedores organizados enquanto um coletivo que tem representação social e jurídica perante à sociedade e o tratamento dos mesmos enquanto bandidos e animais a priori, fazendo com que a minoria violenta ganhe o apoio da maioria não-violenta exatamente por esta se sentir mais segura com a segurança pessoal dos próprios companheiros na base da arma de fogo do que com a segurança que deveria ser provida pela Polícia? Qualquer semelhança com a relação entre moradores de periferia e traficantes que “protegem” a comunidade não é mera coincidência; qualquer relação com o resultado do plebiscito sobre o porte de armas de fogo realizado anos atrás, também não.

Além disso, a Polícia credita aos torcedores corinthianos a intenção da emboscada, por ter encontrado com estes as já citadas barras de ferro e armas de fogo. Os mesmos 60 e poucos que vinham em um ônibus e quatro carros e que foram presos após o confronto pelo porte das armas e por tentativa de homicídio, juntos aos vascaínos envolvidos. Agora, dá mesmo para acreditar que 60 e poucas pessoas buscavam emboscar 800? Ou será que é mais fácil omitir informações sobre essas 60 pessoas? Como aqui a intenção é contextualizar ao invés de pintar um cenário apocalíptico e irracional como de costume, vamos a elas.

A pequena caravana corinthiana era composta por membros do Movimento Rua São Jorge. Um grupo de associados da Gaviões da Fiel que se indignou com algumas práticas às quais são contrários na quadra da torcida – como corrupção – e passou a se encontrar na Rua São Jorge para ir aos jogos. Grupo esse que conta com diversas lideranças importantes da Gaviões e que, entre outras coisas, promoveu um seminário sobre torcidas organizadas envolvendo jornalistas, políticos e torcedores buscando colocar as torcidas como o que deveriam ser, representantes do torcedor no mundo do futebol, a lutar contra o preço dos ingressos e a condição indigna a que são submetidos jogo a jogo, por exemplo. Em outras palavras, lutam para serem entendidos e respeitados como um movimento social, e não meros consumidores.

Iam ao jogo de ontem, como sempre, sem escolta, porque a Polícia Militar simplesmente não os reconhece enquanto torcida – apesar de serem sócios ativos da Gaviões da Fiel – já que não tem CNPJ. Enquanto um grupo pequeno em relação aos “bondes” já estabelecidos há tempos por todas as outras organizadas, e por concentrarem várias lideranças da Gaviões, são sempre alvo de ataques e emboscadas – muitas já denunciadas pela mídia afora. Algo que a Polícia e a Secretaria de Segurança Pública preferem ignorar burocraticamente – até que coisas como o que passou ontem aconteçam. E aconteçam, neste caso, porque a Polícia parou os corinthianos para revistá-los a uma distância de 100 metros dos vascaínos, segundo um torcedor que estava no ônibus corinthiano. Além da completa falta de comunicação e planejamento, se fez presente como sempre o descaso com o torcedor organizado, tratado como lixo, e com a vida – o que infelizmente não é de se estranhar quando estamos falando da mesma Polícia que protagonizou cenas como o massacre do Carandiru. A organizada, transformada em sujeito, atravessa a própria condição dos sujeitos pertencentes a ela, que não são mais pessoas, apenas números e nomes na lista de envolvidos e mortos.

Não se justifica encontrar entre torcedores que vão a um estádio de futebol barras de ferro e revólveres. Mas a explicação para isso não é simplesmente algum tipo de vontade sociopata de matar presente em todos eles. Cada vez mais, as políticas em relação aos estádios vão no sentido de isolá-los, excluí-los, elitizar as arquibancadas e passar a imagem do estádio enquanto um ambiente seguro e tranquilo a ser consumido – por quem pode pagar R$ 4,00 num simples churros e ir a jogos às 21h50 de uma quarta-feira. O problema, que as autoridades terão de enfrentar em algum momento, é que o jogo não se resume – nunca se resumiu – ao espaço do estádio. O futebol está presente por toda a cidade, ainda mais em dias de jogos, e tentar reduzí-lo ao estádio não é um risco, é uma opção política, uma orientação que tem o mesmo sentido daquela que permite a certos grupos espancar e matar moradores sem-teto no centro da cidade, e retirá-los de prédios ocupados usando de força desmedida, mesmo contra mulheres, crianças e idosos.

Hoje, há dezenas de pessoas hospitalizadas, algumas com ferimentos a bala. E como já se sabe amplamente, uma pessoa, ainda não identificada, foi espancada até a morte e deixada na Praça Campos de Bagatelle, palco recente da comemoração de títulos conquistados pelos clubes paulistanos. Apenas de cueca, sem documentos e com o rosto completamente desfigurado. Uma estratégia comum no mundo do tráfico de drogas – assim como o incêndio do ônibus vascaíno em represália acontecido durante o jogo, que não se compara em nada à morte do torcedor – a destruição de um patrimônio material nunca é mais importante do que a perda de uma vida. E os meios de comunicação, como sempre, noticiarão o caso em sua maioria como uma simples briga de gangue, darão voz aos que querem o banimento das torcidas organizadas, aos jogos de uma torcida só – os mesmos que não sabem, ou fingem não saber, que o São Paulo x Corinthians da primeira fase do Paulistão, aquele em que vigorou pela primeira vez a restrição de 5% às torcidas visitantes, registrou número recorde de ocorrências pela cidade desde aquele São Paulo x Palmeiras pela Copa São Paulo de Juniores em que um torcedor foi morto a pauladas dentro de campo – cena repetida milhões de vezes pelos canais de televisão até hoje.

Em 2014, o Brasil sediará uma Copa do Mundo. São Paulo, provavelmente, será o palco da abertura e, com certeza, de diversos jogos importantes. Até lá, como estarão as medidas de segurança pública em dias de jogos? E a condição dos torcedores, organizados ou não? Caminharemos para o mesmo destino do Rio de Janeiro, com seu Pan-Americano que retirou moradores de rua às pressas para a vistoria do COI e que deixou de herança elefantes brancos, construídos com dinheiro público, prestes a serem prrivatizados a preço de banana? Ou há força suficiente para nos organizarmos por uma Copa que seja realmente nossa, da qual façamos parte, sobre a qual sejamos consultados – como deveríamos ser sempre quando se trata de medidas de segurança pública?

Se a mídia, que tem o dever de informar, quase sempre não o faz com a clareza e a crítica necessária, que ao menos textos como este e ações que sigam na direção de acabar com as mortes e a exclusão social sejam difundidos de todas as formas possíveis. Se ele chegou até você, leia. Pare, reflita, critique, encaminhe. Que começemos a criar, de todas as formas ao nosso alcance, um fórum de discussão sobre estes assuntos. Dizem respeito às nossas vidas. E podem determinar, como ontem, a nossa morte um dia.

Que, a partir de hoje, nenhum episódio sequer de violência passe despercebido e sem ser denunciado no seu conteúdo total. É este o desejo de quem escreve este texto. Porque escrever é muito mais do que saber juntar palavras – ainda mais quando se ganha pra isso.

Kadj Oman
DHVCorinthians

04/06/2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Rio de Janeiro continua lindo

Por Gabriel Brito

Para quem pensava que aquele Rio de Janeiro da bossa nova, dos bondinhos, da felicidade do povo local e da máxima expressão de nossa brasilidade tinha ficado na nostalgia, o Comitê Olímpico Brasileiro tem uma boa nova: ele ainda existe, e será ainda mais materializado quando a Cidade Maravilhosa, cada vez mais, receber de braços abertos os Jogos Olímpicos de 2016.

Se alguém pensa se tratar de um delírio, nossas autoridades esportivas podem com enorme prazer comunicar que aquela metrópole dos cartões postais está mais vívida do que nunca. Caso ande desinformado dos acontecimentos recentes, basta assistir ao breve filme panorâmico da cidade mostrado aos inspetores do Comitê Olímpico Internacional (COI), muito revelador até mesmo para nós, habitantes nativos incólumes a tamanha revolução.

Na película, cuja estética e cenografia são de fazer inveja até naquele pessoal que foi se reunir em Cannes, o Rio de Janeiro erradicou seu déficit habitacional, ou seja, não há mais sem tetos; o trânsito flui tão naturalmente como sangue em veias; a moradia em favelas não se faz mais necessária, o que extinguiu os morros da paisagem da cidade; e, claro, os servidores públicos são a fina flor da cordialidade humana.

Tudo isso sem precisar de mais de 5 minutos para escancarar aos surpreendidos – e, portanto, também desinformados - enviados internacionais os até então desconhecidos avanços da sociedade brasileira.

Não vamos nem comentar o funcionamento dos serviços essenciais da cidade, pois já são assuntos superados que se encontrarão em nível indiscutivelmente superlativo daqui a sete anos. Tampouco falemos do Rio de Janeiro que não foi nos Jogos Pan-americanos, quando a limpeza da Lagoa Rodrigo de Freitas e a expansão do metrô, entre outros legados, foram deixadas para uma próxima.

Todo o cenário descrito acima seria lindo, não fosse falso. Foi apenas o famoso trabalho de fachada, tradicionalíssimo por aqui, das autoridades locais, que deram uma pequena ‘higienizada’ no atual visual da cidade. Também foram estratégicos, como confirmou o prefeito Eduardo Paes, ao escolher um feriado, livre de trânsito, para realizar o passeio avaliativo dos membros do COI. "Temos de dar um jeitinho para conseguir trazer as Olimpíadas".

De resto, tudo certo

Se por um lado já foi possível solucionar as principais mazelas sociais cariocas, por outro há alguns pontos que permanecem obscuros para aqueles que insistem em não se contentar com a vinda de grandes eventos - vistos e curtidos por quase todos no mundo, até os críticos – pelas mãos exatamente do que há de pior em nossa sociedade. Gente que faz sua incompetência, entre outros péssimos costumes, arruinar completamente os setores nos quais se envolvem, mas que ainda assim recebem a graça divina de serem os patronos e condutores de megafestividades mundiais.

Por exemplo, segue desconhecida do público a prestação de contas do Pan-americano de 2007, cuja devassa foi prometida pelo Tribunal de Contas da União para, no máximo, o meio do ano passado. Mesmo diante de todas as evidências de descalabro gerencial, ainda não há culpados, muito menos punidos pela histórica sangria que o esporte causou aos cofres públicos.

E o melhor: pelo critério das instalações esportivas da cidade, "Madri está à frente", disse Nawal El Moutawakel, marroquina que preside a comissão do COI. Nosso Pan foi em 2007 e já estamos defasados, portanto. Talvez pelo fato de só aqui ter-se construído um complexo aquático para 6 mil pessoas e se descoberto, um ano e meio depois, que a capacidade mínima em Olimpíadas é de 12 mil. Pequeno erro de cálculo – coisa de país formado por 75% de analfabetos funcionais, incapazes de ler e interpretar, somar e dividir, então, espero que compreendam. Tóquio, só para dar um exemplo, pretende utilizar grande parte das instalações até hoje conservadas da Olimpíada de 1964!

Quanto aos custos da Olimpíada, até pelo recente retrospecto, também podemos nos manter tranqüilos. O Ministério do Esporte, cujo orçamento de 2009 foi reduzido em cerca de 85% por conta da crise, já gastou a módica cifra de 50 milhões de reais em apenas seis consultorias, sendo cinco não licitadas e uma não esclarecida, conforme informou a Folha de S. Paulo. Só para efeito de comparação, não há nenhum esporte no país que receba algo ao menos próximo disso de fonte diretamente oficial.

Outro a nos tranqüilizar, o que por sinal tem sido sua especialidade, foi o presidente Lula, ao afirmar que o orçamento dos jogos deve ficar na casa dos 30 bilhões de reais. Levando em conta que o Pan foi orçado em 300 milhões e saiu para 4 bilhões, imaginem se nossa ineficácia de planejamento contábil mantiver o padrão?

O COB, por sua vez, mostra o quão amigo é do esporte: faz lobby na Câmara para evitar a obrigatoriedade de repassar 30% de seu orçamento (2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais, graninha pouca) diretamente aos clubes. Pois é, aos clubes, justamente os que promovem a prática do esporte e revelam os atletas. A proposta de alteração na Lei Pelé, que versa sobre o assunto, já foi aprovada. Restou a Nuzman, presidente do COB, enfiar uma emenda junto. Difícil pensar por que o COB, uma entidade administrativa basicamente, precisa mais de dinheiro que as próprias entidades da prática esportiva.

De toda forma, para usar um termo muito em voga no Rio, cedo ou tarde haverá o choque, no caso, de realidade. "Defender um projeto virtual é meio complicado hoje em dia", disse Mercedes Coghen, também à Folha. É certo que a dirigente defende seu peixe, mas o fato é que Madri já tem uma estrutura infinitamente mais avançada para receber os jogos no ano que vem, fosse necessário.

"Tais negócios são uma obsessão para o governo e a prefeitura, que sempre estão em viagem buscando grandes investimentos. Enquanto isso, pau nos pobres aqui", disse a socióloga Vera Malaguti ao Correio da Cidadania, em entrevista recente. Pois é, pelo bem do esporte brasileiro, que venha logo o dia 2 de outubro, quando se decidirá, enfim, a sede dos jogos de 2016. Com Madri, Tóquio e Chicago na parada, creio que teremos de nos preocupar apenas com a farra da Copa de 2014, essa sim já inevitável.

Também publicado no Correio da Cidadania.

sábado, 18 de abril de 2009

O novo 'poser' da bola

Por Gabriel Brito

O futebol, e sua violência, estão prestando mais um serviço como palanque para alavancagem de carreiras: graças a ele, o promotor de justiça Paulo Castilho não sai mais das manchetes, mesmo sem ter qualquer ligação prática ou passada com o ramo. E seu pavonismo, involuntária ou voluntariamente, é diariamente estimulado pela mídia, que agora publica até suas opiniões sobre o esquema da seleção, caso o dito cujo as tenha.

Responsável pela patética idéia de reduzir a 5% a carga de ingressos de visitante, piorando o cerco sofrido por essa minoria e acirrando o clima de bandos inimigos vigente no futebol paulista, é daqueles seres embebidos da crença de serem os salvadores dos ambientes em que adentram.

"No começo, as torcidas estranharam a pequena cota de ingressos para o visitante. Mas reduzimos ainda mais e reforçamos a segurança do setor. Eu sabia o que estava fazendo". Um disparate, mas se interpretada a fundo, a frase é muito reveladora da personalidade e mentalidade do promotor (e de todos que o bancam por trás). E reveladora de que tal sujeito é mais um que enganará a todos na luta que supostamente empreende pela paz no futebol.

Vamos tentar analisar a frase e suas entrelinhas. "No começo, as torcidas estranharam". Em primeiro lugar, as torcidas não estranharam nada, e sim detestaram, pois está se matando a cultura do clássico de duas torcidas, de forma desproporcional, com os visitantes sendo encurralados em número ínfimo. Em termos de espetáculo, uma queda brutal.

"Reduzimos ainda mais (a cota de ingressos para a visita) e reforçamos a segurança do setor". Nada mais paulista. Restrição, proibição, aumento da repressão, nervos à flor da pele para lidar com o público. Não somos a terra da lei anti-fumo, dos despejos dos pobres para recantos abandonados da periferia, do Psiu de sábado à noite, da ROTA, do povo chato e mal humorado, do céu cinzento e poluído? Portanto, normal que nossos parâmetros de convivência se guiem por aversão ao próximo, rixas, ódios, vedações.

"Eu sabia o que estava fazendo". Ah, é? Foram três clássicos sob tais orientações. Dois terminaram em pancadarias, somando dezenas de feridos, especialmente no famigerado São Paulo x Corinthians do Morumbi. Só o último (mesmos times, no Pacaembu) não registrou incidentes graves. Ou seja, o saldo é muito, mas muito, negativo. Fracasso total na verdade, pois ficou evidente que tal diminuição do público eleva os ânimos da parcela minoritária a níveis estelares, pois se sente acuada e vulnerável – a torcida do São Paulo precisou de uma escolta monumental para chegar ao estádio, parando Paulista, Consolação e o que mais estivesse em volta. Mesmo assim, o promotor se permitiu tal arrogância. Mas pelo menos revelou que as agressões, fraturas e acirramento de ânimos estavam no script.

No mais, Castilho agora está em todas. Vai a jogos da seleção, recepciona a delegação do Sport Recife em São Paulo, fala que prenderia Cristian pelo seu gesto obsceno na comemoração de um gol, assiste jogo da divisa de torcidas. Uma agenda agitadíssima. Pelo jeito, o MP o dispensou de todas as suas demais atribuições. E tudo sob o papinho de estar trabalhando pela paz, mas que é só a desculpa para circular permanentemente no tentador mundo da notoriedade pública e do trânsito nos corredores do poder no ramo. Como dito em outra coluna, já vimos o filme com Fernando Capez. E a resposta está no nosso nariz: São Paulo é a praça mais violenta do país nos espetáculos esportivos. E exatamente a que ‘revelou’ para o futebol a dupla citada.

Um amigo meu foi ao Rio e, não o primeiro, se disse encantando com o clima que se vive na cidade em torno de um jogo. A mídia, ao contrário da amargura paulistana, conclama o público a ir ao Maracanã. Os torcedores adversários se misturam no metrô, na ida e na volta; toma-se cerveja muito mais à vontade (pena que lá também entraram nessa de proibir dentro e vender a um palmo fora); leva-se toda sorte de instrumentos e adereços de festa. Resultado: públicos maiores e menos violência, pois seus causadores também se inibem em meio a um ambiente desfrutado pela população comum que apenas foi ao jogo.

São Paulo caminha há 15 anos na direção contrária, e no que continuar dependendo do promotor continuará, optando por um modelo de segurança que se referencia na violência, não no convívio. Entendo como uma derrota da sociedade, algo como ‘o medo venceu a esperança’. Como disse Mano Brown, que conhece cruamente a cabeça e o comportamento das classes populares, "você tira os instrumentos, a bandeira, a faixa, encurrala as pessoas num cantinho, proíbe cerveja e vende qualquer salgadinho por 4 reais, o que sobra? Violência, claro."

Enquanto não se buscarem vias construtivas, que incentivem a convivência mútua, livre, chegando mesmo a forçar que todos se misturem, só veremos mais vitórias da intolerância. Como também dito em uma coluna anterior, noves fora a tradição, um clássico paulista hoje fica muito abaixo como espetáculo do que qualquer outro pelo Brasil. Nisso, o Rio de Janeiro, e os outros estados, estão anos luz adiante dos paulistas, cujo estado (mais uma vez) mostra-se como a locomotiva (do atraso) nacional.

Figuras como essa de Castilho precisam ter vida curta no futebol. Roubam a cena, concentram a atenção de todos com novas idéias mágicas que não levam a nada, criam falsas esperanças e no final vê-se que todo o processo foi favorável somente a uma pessoa, que vocês já podem imaginar. As propostas do promotor são todas de linha conservadora, retrógrada, iguais as que vimos fracassar nesses anos todos. Não há porque dar ‘moral’ para que tal sujeito continue em sua falsa cruzada.

O fato de se meter na recepção da diretoria do Sport Recife, alegando cuidar da segurança dos pernambucanos apenas mostra o showzinho e a sede por notoriedade do promotor. Desde quando diretorias que se recepcionam em jantares formais e assistem o jogo de cabines privilegiadíssimas precisam disso? Sendo assim, proponho que nossas autoridades subam em ônibus e trens saídos da periferia (e passem um tempo por lá) a fim de averiguarem como anda a segurança do povão. Nesse caso, aplaudiria de pé tamanha ciosidade.

Castilho é mais um embuste midiático, símbolo de autoridades que não possuem respostas verdadeiras para essa cólera da violência no esporte e acham que tiram coelhos da cartola ao (re)aparecerem com suas novas e supostas soluções. Como uma vez disse a socióloga Vera Malaguti, "ficaremos a mercê dos deputados (ou outras autoridades, no caso) que também não estudam, não lêem e precisam aparecer no jornal com uma solução mágica". Pois, ‘the poser’ é assim. Que percebamos mais rápido, e não deixemos que se comprometam, negativamente, outros 15 anos.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Não se enganem: é só mais do mesmo

Por Gabriel Brito

A última coluna abordou os recentes problemas envolvendo torcedores (majoritariamente organizados) e policiais militares em espetáculos esportivos. Infelizmente, os acontecimentos mostraram que o tema está longe de sair da pauta dos noticiários futebolístico-policiais.

Na tarde do dia 22 de março, ao fim de Corinthians x Santos no Pacaembu, novamente a PM se enfrentou com uma torcida (a do peixe), por motivos que outra vez não ficaram esclarecidos. Enquanto isso, o governo começa a ensaiar entrar pra valer na questão e volta a atrair os olhares do público com (mais um) plano de combate à violência e outros males ludopédicos. Dentre eles causou rejeição imediata o cadastramento de torcedores, defendido pelo ministro Orlando Silva Jr., muito amigo dos cartolas, nem tanto do esporte.

O caso ocorrido na capital paulista (que, repito, é onde mais se aplica proibições de toda ordem e onde a violência mais grassa) é simbólico da nulidade de tal medida. A Federação Paulista já tinha se antecipado a essa genial idéia e promovido o cadastro de torcedores membros de organizadas. Serviria, vejam a inutilidade, para que seus membros pudessem ingressar no estádio com o fardamento da entidade à qual pertencessem. Como se roupas determinassem o grau de violência das pessoas. Mas não percamos tempo nesse ponto, que só serviu para criar a segregação da torcida dentro do estádio e não resolveu absolutamente nada. Isso porque em caso de criar algum incidente violento e ter sua carteirinha suspensa, o cidadão em questão poderia continuar freqüentando normalmente os campos, bastando abrir mão da roupa da torcida e entrar por todos os outros acessos do estádio, destinados ao torcedor dito comum. Parece tiração de sarro, mas são as autoridades do esporte “combatendo” a violência.

De toda forma, o tal cadastro da federação, que concedia uma carteirinha ao membro de torcida que se prestasse ao fichamento, reúne cerca de 22 mil nomes, uma boa base de pesquisa para identificar violentos que causassem eventuais distúrbios. Idéia muito propagandeada, matéria na Folha de S. Paulo dessa semana revelou que a lista só foi consultada 3, 4, no máximo 10 vezes. O tenente-coronel Hervando Velozo, que coordena o policiamento dos jogos, disse por sua vez que nunca consultou tal fonte.

Quer dizer, se fazem um cadastro e admitem que não o usam para nada, por que fazer outro, de abrangência nacional ainda por cima? O governo federal, e nenhum dos envolvidos nas discussões, não fez tal observação, o que mostra o desconhecimento que nossas autoridades possuem da realidade das arquibancadas. O projeto apresentado até tem seus pontos interessantes, mas o único que realmente se destaca é a criminalização do cambismo, prática realmente odiada pelos torcedores. Os outros podem ser abrangidos pelas leis existentes ou pelos próprios regulamentos de campeonatos, como no caso da manipulação de resultados. Se bem que o próprio cambismo pode ser enquadrado como crime contra a economia popular, previsto simplesmente no Código de Defesa do Consumidor.

De quebra, São Paulo escala para comandar tal processo um promotor que já se mostrou uma triste cópia do seu antecessor no palanque do combate à violência. O nome dele é Paulo Castilho. O nome dele era Fernando Capez. O segundo ganhou espaço ilimitado na mídia, alavancou sua carreira, fez fama na vida pública, se elegeu para cargos políticos e não resolveu nada. O primeiro parece ser mais do mesmo, pois já ficou amiguinho dos cartolas (os mesmos que criam climas bélicos antes dos grandes jogos, entre outras práticas bárbaras) e não se cansa de sugerir medidas claramente ultrapassadas e de eficácia desmentida pelos próprios fatos.

Falando em cartolas, como vamos mesmo erradicar a violência das praças esportivas se quem comandará o processo, e comanda os clubes, é a mesma gente que permitiu que as coisas chegassem a tais níveis? O presidente do Santos, Marcelo Teixeira, foi flagrado fazendo gestos, xingando e atirando objetos nos torcedores (dos lugares Vips, ou seja, nada de organizados) do Corinthians na partida citada. O do Corinthians, Andrés Sanchez, insuflou um clima de rixa desnecessária no São Paulo x Timão deste ano e vimos no que deu.

As relações entre as pessoas das altas esferas de poder metidas na discussão já são clara demonstração do jogo de cena que estamos presenciando. Políticos, promotores, policiais, delegados, cartolas são os grandes responsáveis pelo lamentável quadro da civilidade esportiva e são os mesmos escalados para promover a paz. Por isso que todas as medidas atingem e afetam somente o torcedor, inclusive aquele pacífico que nunca se envolveu em nada. Mexer na estrutura que é bom, nem pensar. Por isso foi limado do Estatuto do Torcedor, primeira lei assinada por Lula, o artigo que responsabilizava os dirigentes por ocorrências e ilicitudes envolvendo suas entidades. Malandro é o gato, que já nasce de bigode...

Na Inglaterra, exemplo repetido aos milhares, a violência foi combatida com medidas estruturais e estruturantes, isto é, que visavam primeiro mudar a realidade local, para depois exigir contrapartidas dos torcedores, pois concluíram que “o torcedor tratado como animal reage como animal”, como contou o pesquisador Oliver Seitz, que estuda questões relacionadas ao futebol na Universidade de Liverpool.

O relatório Taylor, famosíssimo trabalho de um lorde inglês tido como ponto de partida da efetiva mudança de realidade britânica, vive sendo citado pelos nossos cartolas, quando vêm com a cantilena de que agora a brincadeira acabou. Pois deveriam saber que o mesmo lorde Taylor rifou a idéia de Margareth Thatcher (quem mais?) de implantar um cadastramento semelhante. Disse que a questão dos estádios precisava ser focada na segurança, não na violência. Belo conceito a ser aprendido por aqui, onde só se ataca superficialmente os problemas, de todos os segmentos na verdade, e não no fundo, na origem.

Além do mais, dentre tantos documentos que já permitem nossa identificação perante o Estado, por que mais um, que só viria a burocratizar a simples e inocente (sim, acreditem) ida ao estádio? Não pensaram eles que isso certamente diminuirá o público dos jogos, pois nem todos aceitarão passar por isso, ainda mais quando se tratar daquele sobrinho de oito anos que nunca foi ao jogo? Ou de turistas que queiram conhecer o Maracanã? “Mas aí é só ter o bom senso de deixar entrar”, disse Lula. Quer dizer, a norma já começaria acompanhada do jeitinho brasileiro, que desta vez estaria até previsto em lei, uma grande inovação, reconheçamos.

Enfim, estamos diante de nova cortina de fumaça, que visa somente eximir de culpa e tirar do foco das críticas os mesmos incompetentes de sempre, que na falta de satisfações a oferecer à sociedade aparecem com ‘novas’ idéias de erradicação da violência. Pois enquanto dizem isso, se coadunam com os mesmos que chamam de marginais, concedendo ingressos e demais privilégios a quem dizem enfrentar.

A discussão continua, mas já aviso, sem medo de errar, que por enquanto nada mudará.

Texto também publicado no Correio da Cidadania.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Polícia para quem precisa!

Por Gabriel Brito

É assustadora a crescente onda de violência envolvendo a Polícia Militar no futebol brasileiro. Somente nos últimos três meses, houve ao menos um notório incidente em cada um deles. Isso em plena época em que se vende a ilusão da Copa de 2014 ao público mundial e na qual cartolas bloqueiam com todas as forças quaisquer iniciativas que ousem ir na direção oposta a seus interesses – vide os bem sucedidos lobbies de Ricardo Teixeira e Carlos Nuzman para evitar a instauração de CPI sobre CBF e COB.

Dando o exemplo de como tem sido o combate à violência no futebol, todos os episódios referidos terminaram sem punição. Em dezembro de 2008, no caríssimo e desnecessário Bezerrão (que custou 55 milhões de reais ao orçamento da cidade-satélite de Gama), um policial foi desferir uma coronhada em um são-paulino, a arma disparou e o tiro atingiu a nuca do torcedor, que morreu na hora; em fevereiro, na saída de Corinthians e São Paulo, uma explosão ainda não decifrada causou tumulto entre policiais – que, para controlar a situação, soltaram mais bombas – e corintianos, que terminou com 49 feridos; por fim, no último final de semana, PMs baianos praticaram agressões covardes contra torcedores do Fluminense de Feira de Santana.

Em todos os casos, as reações daqueles que deveriam acalmar e proteger foi de total agressividade e instinto de batalha, para dizer o mínimo; em suma, o torcedor é visto como inimigo a ser combatido. Em todos, a polícia tenta se eximir de culpa, jogando-a para o outro lado, o que é lamentavelmente acobertado ou ignorado pela grande mídia, que salvo honrosas exceções só se presta a ouvir o lado das autoridades – as mesmas que deixaram o futebol brasileira falido, órfão de seus craques e violento.

Está mais do que provado que nossos policiais não têm o menor preparo para lidar com o público numa posição autêntica de servidor público, até porque essa concepção de policial já se descaracterizou completamente. Fora isso, tampouco possuem aptidão para controlar e contornar situações de tensão, pois estão preparados para revidar, e não tranqüilizar. É assim que se vive o dia-a-dia da profissão, o que já explica muito.

No entanto, é ainda mais preocupante, em um momento no qual já não se suporta bater nas mesmas teclas do tema da violência, que a própria corporação trate de ocultar a realidade e evite uma autocrítica. No caso do clássico paulista, aconteceu algo escandaloso já nos dias seguintes ao tumulto que sabe-se lá como foi pouco repercutido: o 34º. DP da capital preparou um parecer que incriminava totalmente os torcedores corintianos, sendo que tal ‘investigação’ foi prontamente desqualificada pelo próprio coronel que chefiou a segurança do clássico. Quer dizer, a PM já aprontava mais uma armação que mancha o nome da própria instituição, em moldes mais moderados, é verdade, se comparados às suas atrocidades nas periferias das cidades. Mas como confiar a resolução dessa endemia a autoridades que promovem tão escancarada falsificação da verdade?

De toda forma, fica difícil esperar que se resolva o problema da violência quando as próprias autoridades dão seguidos exemplos de descontrole e posterior descaso em investigações que ajudariam a moralizar um pouco o debate. Aí chovem paliativos de dirigentes e promotores incapazes de propiciar soluções verdadeiras, que terminam em mais proibições, restrições, segregações, como já se vê em São Paulo há tempos, sem qualquer efetividade.

A nova baboseira da praça é a de querer limitar ainda mais, ou vetar diretamente, o acesso do público visitante. Além de desrespeito ao básico direito de ir e vir, é uma terrível confissão de incapacidade da nossa sociedade em conviver minimamente bem com o contrário, que no caso é apenas alguém que prefere outro time. Se admitimos isso, não estamos em condições de nos considerar um país civilizado, simples assim.

São Paulo já vive um estado de exceção em seu futebol que nenhum outro local do país vive, e é exatamente a praça que concentra a maior quantidade de episódios de violência. Bandeiras, instrumentos, jornal, guarda-chuva, tudo é proibido em São Paulo, e, de quebra, os preços e horários dos jogos são cada vez mais acintosos. Natural que com esse coquetel, em meio a uma cidade já caótica e brutal, os estádios paulistas virem um barril de pólvora.

No resto do país, é verdade, a coisa não anda lá muito melhor. Pode-se lembrar também do episódio envolvendo a PM de Recife e os jogadores do Botafogo, agredidos e ofendidos de forma absurda no meio do campo só porque um de seus atletas se envolvera em confusão de jogo e trocou insultos com um torcedor. Ainda por cima a Câmara dos Vereadores local concedeu medalha aos policiais pelo trabalho, em patética demonstração do mais barato bairrismo.

Por fim, e o mais importante, é inacreditável como não se investe e se utiliza mais o trabalho de inteligência da polícia. Ao contrário do que se pensa, não são necessariamente antônimos. Conhecer com antecedência o que fazem os violentos e seus pontos de encontro pelas ruas é primordial para que se anulem suas ações. Há condições de se fazer tal trabalho com eficiência e aplicar punições concretas, já existentes em lei. Muito se cobra uma legislação específica, mas já existem penas previstas para assassinatos (ou tentativas), lesões corporais, depredação do patrimônio, dano moral etc.

O futebol já está cansado de autoridades que prometem soluções definitivas, anunciam grandes punições a caminho, mas terminam se envolvendo na mesma rede de facilidades trazidas pela notoriedade pública, holofotes, trânsito nos bastidores, enfim, todo o circo que só serve para alavancar carreiras e egos pessoais. Enquanto todos os desequilíbrios sociais não forem resolvidos, não será o futebol que erradicará a violência e a intolerância de nosso convívio, mas prevenir ações anunciadas de vandalismo e posteriormente cumprir a lei ajudaria muito a mantê-lo vivo sem que seja descaracterizado.


Gabriel Brito é jornalista.
Este texto também está publicado no Correio da Cidadania (http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3016/9/)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Uma campanha que vale a pena - e cada vez mais urgente



O blog Casa do Torcedor em parceria com o Terreiro do Galo lança essa nobilíssima campanha, à qual o Futebólatras adere imediatamente.

Espero que o maior número de pessoas com voz e alcance na mídia possa fazer essa proposta repercutir o suficiente pra se tornar realidade.

***

Casa do Torcedor e Terreiro do Galo lançam a Campanha “Paz nos Estádios - Blogueiros unidos em busca de Justiça”

Um atleticano baleado em um ponto de ônibus em Belo Horizonte. Mais de 40 corintianos feridos em um confronto com a Polícia Militar no Morumbi. Brigas e tiroteio entre flamenguistas, botafoguenses e policiais nas proximidades do Maracanã. E outras confusões em estádios de futebol por todo o país.

Esse foi o saldo de um domingo que não pode ser esquecido na história do futebol brasileiro. Apesar de terem chocado todos nós, esses acontecimentos são, infelizmente, comuns.

Quando o jovem Márcio Gasparim, de 16 anos, foi morto a pauladas em uma verdadeira batalha campal no Pacaembu em 1995, já esperávamos que fossem tomadas atitudes que diminuíssem a violência nos estádios. Não foram.

As confusões em estádios ou fora deles não cessaram. E a cada uma, fazemos uma pergunta que explica por que elas acontecem: Por que ninguém é punido? Nem torcedores vândalos, nem policiais truculentos e, muito menos, cartolas que incitam a violência inflamando as torcidas, são punidos.

A experiência do passado nos torna céticos quanto às atitudes que as autoridades devem tomar. Mas isso não deve impedir nossa mobilização em busca da paz nos estádios.

A Casa do Torcedor e o blog Terreiro do Galo, então, acabam de lançar a Campanha “Paz nos Estádios – Blogueiros Unidos em Busca de Justiça”. Queremos com ela unir blogs, jornalistas e demais pessoas que têm o mesmo ideal.

Nosso objetivo é pressionar as autoridades a aprovarem uma legislação específica que previna e puna a violência nos estádios e seus arredores. Uma lei que puna com rigor os responsáveis por atos de violência no futebol, sejam eles torcedores, policiais ou até dirigentes que incitem a barbárie.

Temos certeza que um dispositivo legal construído a partir da ampla discussão entre todas as pessoas que estejam ligadas de alguma maneira ao futebol é a melhor maneira de diminuir a violência no esporte e, assim, devolver ao torcedor a certeza de voltar são e salvo para casa após o simples ato de ver seu time jogar.

Faça parte dessa campanha! Clique na imagem e capture o banner. Pedimos a todos que aderirem a essa mobilização que enviem um e-mail para paznosestadios@gmail.com, dando-nos o nome e link para o seu blog. Quanto mais blogueiros se unirem nesta nobre causa, mais força teremos para exigir uma resposta dos responsáveis pela segurança do torcedor brasileiro. Ainda, a utilização deste texto para apresentar o projeto aos seus leitores poderá ser uma ótima estratégia para melhor informá-los da campanha.

Faça parte dessa grande corrente, independentemente das cores que seu clube veste. Contamos com a participação de todos os blogueiros apaixonados pelo futebol e, principalmente, apaixonados pela vida.

Atenciosamente,

Arnaldo Gonçalves – Casa do Torcedor

Christian Munaier – Terreiro do Galo

Arte: FredKONG

Censura no Nordeste


Por Kadj Oman, do www.vailateral.wordpress.com

A polícia brasileira, definitivamente, ainda faz questão de nos lembrar de 1964.

Aos amigos da Resistência Coral, não desistam. Liberdade de expressão é um direito básico de todo cidadão, e uma faixa pró-Palestina é tão política quanto um banner da Coca-Cola.

Se pode um, pode outro. Não tem nem o que discutir.

***

Do site da Resistência Coral:

No último sábado (14/01/2009), durante a partida Ferroviário x Maranguape no estádio Plácido Castelo (Castelão), valendo pela fase semi-final do 1° turno do Campeonato Cearense de Futebol, aconteceu um fato condenável. A torcida organizada Resistência Coral mais uma vez teve um de seus materiais censurados. Nesta ocasião tratou-se de uma bandeira que contém os seguintes dizeres “Resistência Palestina”.

Antes do início da partida, a torcida organizada estendeu ao longo das arquibancadas algumas de suas faixas e bandeiras, como costumeiramente faz. No decorrer do primeiro tempo do jogo policiais pertencentes ao Batalhão de Choque aproximaram-se dos membros da Resistência Coral e, para o espanto destes e de outros torcedores corais, deram o aviso/a ordem de que a referida bandeira não poderia ficar exposta; estava proibida! Buscando entender o motivo da proibição os membros da Resistência Coral ouviram do capitão da Polícia Militar que a ordem tinha partido da administração do estádio e que a mesma alegava que a bandeira tratava-se de uma manifestação política e, por isto, não era permitida. Pasmos, os membros da torcida ainda argumentaram contra esta arbitrariedade, mas foi em vão.

Esta não é a primeira vez que a Resistência Coral foi censurada. Em mais de uma ocasião a faixa com os dizeres “Nem guerra entre torcidas, nem paz entre classes” teve que ser retirada a mando do policiamento presente nos estádios. Em 2006, na primeira vez que isto ocorreu, a polícia chegou também a rasgar com um punhal uma bandeira da torcida que continha o símbolo da foice e martelo, afirmando que “não permitirá mais referências ao comunismo nas laterais do campo”.

No início de 2008 membros da Resistência Coral impetraram um mandado de segurança preventivo com pedido de liminar, a fim de combater tais arbitrariedades e evitar futuras repressões, buscando o direito respaldado pela Constituição Federal à livre manifestação de pensamento. O processo tramita no Tribunal de Justiça do Estado do Ceará.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Torcer: uma missão para bravos

por Gabriel Brito

Abro este texto avisando que o conteúdo que se segue é um relato jornalístico-pessoal, o que na verdade é uma simbiose inevitável, mas que admitida pode conferir menos leviandade ao que se subscreve. Trata-se de uma tentativa de analisar e tirar conclusões dos acontecimentos registrados no Morumbi, à saída do clássico entre São Paulo e Corinthians, mais especificamente da nova tarde de violência e estupidez no país da Copa de 2014.

O tema está em todas as manchetes desta segunda, reverbera na cidade toda e será abordado (e investigado?) à exaustão. Mesmo assim, creio agregar algo ao debate relatando minha experiência, ao lado de meu irmão, na epopéia a que nos propusemos viver neste domingo.

É realmente inevitável dissociar os fatos ao final do jogo com o clima criado, por todas as correntes, durante a semana. No meu ponto de vista, o São Paulo FC tem a mais relativa das culpas. Não avisou com grande antecedência que haveria a controvertida, mas legítima, divisão de torcidas em 90% a 10% e estranhamente construiu o setor dos visitantes ao lado da arquibancada onde se localiza a Independente, isto é, os torcedores tidos como mais temíveis. Por que não fazer o visitante no setor amarelo, sempre o menos povoado pelos são paulinos e com 100 metros de distância para suas organizadas?

Por sua vez, o Corinthians, em nova atitude demagógica de sua diretoria, esperneou e direcionou expressões como ‘egoísta’, ‘pequeno’ e ‘irresponsável’ aos seus pares tricolores. Digo assim, pois não é a primeira vez que Andrés Sanchez ‘joga para a torcida’. Ao lado de seu departamento de marketing, vem incorrendo em tal expediente desde o rebaixamento do clube, quando precisou limpar sua barra em relação à gestão anterior e levantar fundos para bancar a monumental dívida com que a quadrilha Dualib, da qual era parte, brindou o alvinegro. E para isso não foram poucas as campanhas publicitárias a exaltar o amor que o corintiano (e mais ninguém aparentemente) tem pelo seu time. Em suma, eles fizeram a dívida, mas como somos nós, a torcida, que pagaremos, é preciso adular-nos e fazer-nos esquecer todas as impropriedades cometidas ao longo dos últimos sei lá quantos anos (só crianças acham que não acontecia nada antes da era MSI). Por isso só a fiel não abandona, só a fiel é roxa pelo time e só a fiel comparece ao estádio na pior. Sem fazer comparações com outras torcidas, são verdades incontestáveis, mas para quem sempre seguiu o time não são novidades e pegam mal em momentos como esse, podendo soar como certo oportunismo também.

Outro capítulo à parte coube à imprensa. Aventou o clima de guerra, repercutindo em excesso declarações tolas da cartolagem, preferindo deixar os esquemas dos professores Mano e Muricy em segundo plano. Tratou a iminência dos distúrbios como alegoria, mas seu papel mais pernicioso na história só começaria a ser protagonizado no anoitecer do domingo e principalmente nas páginas de segunda-feira. Sendo o que resta de jornalismo esportivo compromissado com o seu público, a ESPN Brasil esteve em cima da pinta e logo abordou o assunto de forma realista, expondo que o que ocorrera à saída era culpa, e muita, da PM. Colocou seus repórteres para circular, falar com torcedores (sim, eles também podem ser entrevistados) e, aí sim, colher a posição oficial, das autoridades. Tendo praticado jornalismo, ficou fácil auferir que a responsabilidade da PM na confusão que vitimou dezenas de espectadores (não gado) era no mínimo razoável, o que arrastou alguns outros veículos a mudarem um pouco seu viés chapa-branca, de Diário Oficial da União, na hora de contar os fatos.

Entretanto, Arnaldo Ribeiro, da Placar e ESPN Brasil, foi certeiro. “Nós, jornalistas, devemos também mudar um pouco, acompanhar o que passam esses torcedores nas saídas de jogo, pois realmente não vivemos isso”. Não é preciso dizer muito mais. Quem lê a cobertura de tais acontecimentos sabe que nossa imprensa só sabe ouvir fontes oficiais (policiais, dirigentes e promotores, que, aliás, são a mais nova categoria que se vincula ao futebol) e a partir disso tira suas conclusões de gaveta. “Os marginais, sempre os marginais”, “Ah, essas organizadas”, “Ui, não vá nunca mais ao estádio”, enfim, nada se discute a fundo, não se cobra, permanentemente, punição aos culpados quando um verdadeiro crime ocorre e se estigmatiza completamente o torcedor que ainda mantém sua paixão e faz questão de exercê-la. O jornalista Flavio Prado, que trabalha na TV aberta, se referiu aos cerca de 41 mil pagantes do clássico do paulistão do ano passado como ‘imbecis’. Isso pelo simples fato de terem ido ao Morumbi naquela tarde de Adriano em campo e do único clássico entre ambos em 2008, pois “quem vai ao estádio hoje em dia é isso: imbecil ou marginal. Quem não é de organizada, essa turma que só vai pra brigar, é acobertador de marginal”. Uma volta aos bancos da faculdade seria salutar, pois lhes faria lembrar que um mandamento mais do que básico, obrigatório, da profissão é apurar fatos e versões para além das fontes oficiais e oficiosas.

No entanto, tal preceito não deve constar na redação do Diário de São Paulo, para dar um exemplo. Pois o que lá se lê é o supradito, é a simbolização do trabalho midiático em tais circunstâncias. Apenas fontes oficiais. E mais: ouviram um torcedor alvinegro – anônimo – que imputou a causa da briga aos Gaviões e um morador do bairro que acusou os torcedores de promover um arrastão. E a partir desta altura do texto, torna-se útil ter estado lá.

Fiquei no setor ‘dos 90 reais’, isto é, um pouco mais vazio que o outro corralito alvinegro, logo, mais cômodo. Esperamos os tais 40 minutos para sair, calmamente. Um pouco antes de escurecer, começou a chover fino, o que irritou o pessoal ali presente. Então, começamos a pedir liberação para deixar a arquibancada. No que fomos atendidos pronta e tranquilamente. Comecei a descer a rampa, cheguei à saída e lá já me deparei com os ônibus do comboio de nossa torcida estacionados ao lado do estádio, no contorno da sede social, repleta de policiais, como não deixaria de ser. De repente, ouve-se um estouro, que naquele momento não causou grande preocupação em quem já havia saído. Entrei ao lado do meu irmão e mais um amigo no ônibus, a esperar pela partida. O clima era ameno e parecia que ainda tardaríamos um pouquinho a sair. Mais alguns minutos, ouvem-se mais uns 3 ou 4 estouros. Outro curto lapso de tempo e começam a voltar para os ônibus corintianos, aos montes, manquitolando, queixando-se de dores, quase todos nas pernas. Pensamos: “Bom, enfim, o pau comeu”. Pensávamos que era algo do tipo Gaviões x Polícia mesmo, e por alguma razão gratuita. E a partir daí, o trato dos oficiais mudou: começaram a ordenar aos motoristas que ligassem os ônibus e a tocar os torcedores para dentro deles, muitos ainda sem localizar o veículo que os trouxera. Uma clara e até ali inexplicável mudança de comportamento. E eu já estava contentíssimo de ter visto o esquema de escolta da caravana ter corrido bem na ida, quando saímos do Bom Retiro.

Empreendemos a saída do Morumbi pela Giovanni Gronchi, por onde também chegáramos. Sem explicação, fomos parados ali novamente, esperando outra meia hora, aproximadamente, para retomar o trajeto de volta para a quadra dos Gaviões, que de acordo com a própria PM é a melhor maneira de ir a jogos nessas circunstâncias de parcela minoritária do público. Eu e meu irmão tomamos a decisão de ir com os Gaviões por conta própria, pois já havíamos calculado que, ainda que descamisados, indo sozinhos e pelos trajetos normais correríamos risco de tomar algum susto, para dizer o mínimo. E como era evidente que a caravana das organizadas seria escoltada até a medula, concluímos ser mais seguro ir ao Morumbi com eles. Após essa nova espera, finalmente, por volta de 8 da noite, começamos de fato a ir embora. Contornamos o terminal João Dias, entramos na Marginal Pinheiros e nos mandamos – ainda houve tempo para uma pedrada na janela de nosso veículo, sem maiores consequências.

Portanto, que Gaviões e Polícia tenham se pegado é praticamente uma certeza, resta saber os motivos. A gaguejante entrevista do coronel Velozo foi insegura, seca e contraditória. Como pode ser visto no Blog Vai Lateral, as explicações não se sustentam.

“A torcida do Corinthians partiu pra cima da patrulha da PM, composta por apenas 5 policiais e 1 tenente, e esta revidou”. Eram, segundo o comandante, cerca de 500 torcedores. Primeiro de tudo, suspeita a conta de apenas 5 policiais para fazer a evacuação da torcida. (observação de quem foi ao jogo: eram muito mais) Depois, estranho que 500 torcedores tenham fugido de 5 policiais, mesmo estando estes atirando “apenas 3 bombas de efeito moral”, conta o blog, que ainda expõe o relato de outro torcedor.

“Começou a chover muito, a torcida decidiu se abrigar da chuva nos corredores embaixo da arquibancada e começou a aglomerar a torcida inteira, que chegou até perto dos portões. Aí entra a Tropa de Choque, eles nem perguntaram o que acontecia, viram a massa e já começaram a lançar bombas, balas de borracha, dar borrachada. E o resultado foi que ficaram mais de 3 mil pessoas espremidas num corredor, engolindo gás de pimenta. A PM começou a recuar todo mundo num blocão esmagador, era um verdadeiro rolo compressor humano se esmagando e entre os torcedores se ouvia os gritos de mulheres e até crianças sendo esmagadas, foi uma cena realmente chocante. E assim foi prosseguindo até que a massa espremida foi caindo de costas pela única saída de visitantes. Foi feito um mutirão para ir resgatando as pessoas dali do meio e o resultado é que tinha até mulher grávida desmaiada e entre os muitos feridos, vários com fraturas expostas. E como sempre as organizadas foram as culpadas e a PM está de parabéns”, conta o torcedor, não identificado mas que lá deixou um depoimento.

A versão oficial apresentada foi contradita pelo mesmo Velozo, ao final da improvisada coletiva. “Houve um estouro no estacionamento, os torcedores vieram em nossa direção e a partir disso nos defendemos”. Pois é, fica claro que não se sabia a origem do estouro, nem por parte dos policiais, nem dos torcedores. E mesmo assim o comandante admitiu (na frente de todas as câmeras!) que a reação natural e inicial foi a de revidar, partir para cima de volta, sem nem saber de quem era a culpa, já que até o fim da conversa com os repórteres o policial não afirmou de onde partira esse primeiro estouro. Portanto, a versão de ataque dos torcedores corintianos prova-se falaciosa, ao menos confrontando todas as versões apresentadas, inclusive a oficial. E os instintos de violência da PM ficam novamente desnudados. A propósito, alguém chegou a ver as matérias de capa de janeiro das revistas Caros Amigos e Le Monde Diplomatique? Pois é, lá fica exposto o quão ilibada e realmente irretorquível tem sido a conduta de nossas polícias, ficando fácil compreender o porquê de nossa grande mídia se satisfazer tão facilmente com os pareceres das autoridades.

Quanto ao arrastão, é uma rotunda inverdade. Até porque mal havia ‘o que arrastar’. Cercados que estávamos por policiais, que eram muitos como já dito, não havia a menor possibilidade de se empreender uma ação do tipo. Pelo fato de não haver espaço físico sobrando, de lá estar um contingente enorme de PMs e de nem sequer existir algum ‘alvo’ disponível para vitimizar, se assim decidissem os presumidos marginais.

Antes mesmo de chegar à sede da torcida alvinegra, recebi pencas de ligações de gente que queria saber como estavam as coisas. Meu pai, do Rio de Janeiro, começou a acompanhar o noticiário e já ia nos informando de tudo. E já àquela altura ele me dissera: “O PVC tá dizendo que a culpa é da Polícia”. Bom, a novidade em questão era ver gente da imprensa rapidamente apontando o dedo para o lado oficial da história, não o culpado em si. Pareceu uma luz no fim do túnel ouvir isso, talvez dessa vez a repercussão fosse outra, pensei. Hoje, como não poderia deixar de ser, tratei de acompanhar a repercussão. Parte da mídia de fato se sensibilizou com o lado do torcedor (quem sabe a ESPN não impõe um agenda-setting ‘do bem’), mas outra parte insiste em sua crença inabalável nas autoridades e instituições oficiais de nossa sociedade.

Como foi o caso do citado Diário de S. Paulo. Confesso que a partir disso perdi a vontade de continuar folheando outros jornais, que adoram destacar em fotos colossais as partes trágicas do jogo. “Mas é importante falar disso, é de claro interesse social”, responderão todos. Nenhum imbecil discorda. No entanto, tenho dificuldades em acreditar na vontade de resolver nossas mazelas sociais por parte de um veículo de mídia que na mesma capa coloca uma chamada para matéria sobre o casal recordista em tempo de beijo debaixo d’água e que dedica páginas inteiras a ‘celebridades’ que ganham a vida exibindo peito, bundas e abrindo pernas, inclusive em público. Fico aqui concatenando pensamentos e me sinto mortificado de saber que minha pobre cabecinha é incapaz de compreender o interesse social de tais questões.

Pensando bem, é tudo previsível mesmo, parte do circo. Pois como a grande imprensa tem abordado a crise econômica, senão pelo ponto de vista dos empresários, isto é, de seus causadores, que assim ficam livres para expressar quase sem contraponto suas versões dos fatos, sustentando assim a onda de demissões que já assola o país? E no Paraisópolis, como é a cobertura, senão um mero diariozinho de acontecimentos, evitando-se cuidadosamente entrar em explicações sociológicas dos fatos? E em Gaza, como foi a abordagem, senão pelo massacrante ponto de vista israelense, ignorando o fato de a fundação do Estado de Israel ser um ato de ocupação em si desde os primórdios e também omitindo o fato de que há muito tempo o Hamas aceita o direito a existir do Estado israelense e negociar de acordo com as fronteiras de 1967? Por sorte, saí há pouco tempo da faculdade, o que me faz ter fresquinho na mente a premissa inegociável de que o ‘jornalismo é, antes de tudo, uma função social’. Pois se com assuntos tão mais sérios que o futebol a mídia já esbanja sua (ir)responsabilidade social, o que pensar de uma mera partidinha de Campeonato Paulista? O jornalismo de vassalagem está em voga há muito tempo e não somos nós corintianos que estamos “desmascarando” alguma coisa.

O balanço que se pode fazer, obviamente, é negativo. Mas ao mesmo tempo reflito e vejo que não houve novidades. Ainda mais sendo visitante. Quem entende do que falo, sabe: o tratamento, Brasil afora, de torcidas forasteiras é absurdo, violentíssimo, provocador e humilhante. Fui ao Rio de Janeiro em 2007 ver um jogo contra o Flamengo e não deu outra. Fomos esculachados pela PM carioca, cujo linguajar é inacreditável, do começo ao final do jogo. Na entrada, fomos obrigados a entrar correndo, enquanto os ‘servidores públicos’ (um teórico sinônimo de polícia) giravam seus cassetetes para apressar a entrada, se assim pode ser dito. Lá dentro do Maraca, na hora da saída, ficamos esperando o momento da liberação, enquanto os oficiais tentavam a todo instante fustigar torcedores, através de xingamentos e ordens brutais, como proibição de ir ao banheiro. Isso até conseguirem e poderem se comprazer em conjunto espancando alguém, coisa que fizeram e testemunhei. Em outra visita ao Rio, meu irmão foi ver a semifinal da Copa do Brasil no moderníssimo, dispendioso e superfaturado Engenhão, de onde voltou com escoriação no braço, pois levou uma cacetada quando deixava o banheiro, o que aconteceu com muitos e muitos outros torcedores. Aliás, um vídeo-denúncia chegou a circular no YouTube, com duração de 8 minutos, com diversas atitudes dos oficiais registradas. Houve outras filmagens, mas muitas das pessoas que as fizeram simplesmente tiveram suas máquinas digitais ou celulares tomados e destruídos pela PM carioca. Além de meu irmão, ouvi esse mesmo relato de outras pessoas presentes.

Portanto, o que ocorreu no Morumbi foi apenas mais uma dose da mesma mistura que vem matando o futebol brasileiro nas arquibancadas. Polícia despreparado e/ou violenta, torcidas nem sempre dispostas a cooperar com a ordem e uma mídia ávida por relatar tragédias – basta ver que quase nada se falou da partida, com ou sem razão; cada qual com sua abordagem, mas não se falou. A grande diferença é que dessa vez ficou complicadíssimo lamber a bota da PM e referendar de primeira sua versão. Que sirva para que a mídia MUDE sua atual abordagem do futebol. Que pare de ignorar os inumeráveis sofrimentos do torcedor, de apenas noticiar os crimes relacionados ao futebol sem cobrar permanentemente por suas resoluções, de fingir que não percebe a forçadíssima elitização do nosso esporte querido, de se omitir com os horários cada vez mais pornográficos dos jogos. Aliás, como nessa sociedade todos os processos são impostos de cima para baixo, sugiro que essa elitização do jogo venha de cima também. Ou seja, troquem quem colocou nossos clubes e federações em penúria completa por gente qualificada, estudada em gestão, em marketing, que apresente algum estudo de mercado que justifique qualquer aumento de preços nos ingressos, que não podem continuar a preços tão irrealistas, muito menos quando toda a estrutura em volta permanece igual. Elitizem a gestão do futebol primeiro! Porque me parece impossível modernizar alguma coisa exatamente com as mesmas pessoas que passaram (só no pretérito?) anos sugando, roubando e arruinando nossas entidades esportivas. Nesse caso, a elitização, vejam só, parte de baixo, isto é, primeiro atinge o torcedor, depois.... bem, depois fica por isso mesmo, como tão bem sabemos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O rebaixamento tricolor no Paulistão de 90


Por Gabriel Brito

Bom, pessoal. Depois de muito tempo, este endereço está voltando à ativa. Não sei se o mesmo já foi dito em outros posts, fiquei com preguiça de ver, mas o fato é que retornamos.

E para começar bem, um tema que foi ressuscitado para as atuais discussões futeboleiras: o rebaixamento, ou não, do São Paulo FC no campeonato paulista de 1990.

Como se sabe, o regulamento não formalizava em sua redação os descensos, especificando apenas que os 14 melhores classificados do torneio estariam numa espécie de grupo de elite (denominado grupo 1) do torneio de 91, enquanto que outras dez equipes piores qualificadas comporiam outra chave (grupo 2). Apesar de a distinção dar toda a aparência de 'primeira e segunda divisões', os dois melhores colocados do grupo dos piores qualificados poderiam participar da fase final do certame ao lado de seis equipes advindas do grupo 1.

Com isso, houve respaldo legal na conquista tricolor de 91. No entanto, e com base na histórica tradição brasileira de confusões e obscuridades em torno de regulamentos, ficou a pecha de rebaixado para o clube do Morumbi. O raciocínio não é de se considerar absurdo, já que, apesar de não poder ser configurado oficialmente como tal, houve uma clara despromoção técnica da equipe, que ficou relegada a um 'subgrupo', enquanto que a maioria das equipes se enfrentava em uma chave de evidente superioridade técnica.

Portanto, dá pra dizer que o São Paulo encarou uma segundinha, sim. Não é oficial, mas será que isso será lembrado por torcedores rivais naquelas discussões regadas a álcool? Além do mais, há farta fonte de fatos semelhantes. Nos anos 80, a Taça de Prata enviou representantes às fases finais do Brasileirão da elite, a Taça de Ouro. Em 2000, o mesmo aconteceu na famigerada Copa João Havelange, com equipes até do grupo equivalente à terceira divisão entrando no mata-mata decisivo. E tanto a Taça de Prata quanto os módulos subalternos da JH eram considerados divisões de acesso à elite, ainda que num mesmo ano.

Enfim, os dois lados têm os elementos suficientes para bancar suas teses. O que está claro é que o debate popular dispensa a chancela da cartolagem. Este não é,nem será, o último exemplo. Vide discussões acerca de Mundial da Fifa, Copa Rio, Intercontinentais, Copa União...

Para apimentar, fica aqui um link, que me foi passado pelo jornalista (e brother principalmente) Leandro Iamin, com matéria da Folha de S. Paulo no dia seguinte a São Paulo 6 x 1 Noroeste, jogo que, apesar do resultado, confirmou a 'classificação' tricolor para o subgrupo do Paulistão 91. Talvez reflita o espírito da coisa.



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