segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ronaldo, meu filho

Por Leandro Iamin

Brasileiro só é solidário no câncer. Na saúde, todo paternalismo é falso e o apoio real não há. O sucesso é tratado e rebatido com chacota e despeito.
Primeiro parágrafo de um revoltado? Sim. De um Ronaldista revoltado.
Hoje eu tenho um sentimento pela Inter de Milão, que beira o amor. Culpa de Ronaldo. Hoje eu tenho 5 estrelas na minha camisa amarelinha. Culpa do Ronaldo. Hoje eu estou transtornado, por culpa do Ronaldo.
Em 1994, ele tinha 17 anos. Ganhou uma Copa, estava com o grupo do tetra. Eu, criança, fiz as contas, em casa. "Se ele pode, eu também posso". Com 17 anos, eu queria estar na seleção!
Fiz 17 anos em 2002. Eu não estava na seleção. O Ronaldo estava.
Ele chutou a Inter? Sem problema, sigo amando Ronaldo, sigo apaixonado pela Inter. Ele foi pro Milan? Ok. Deixa o homem trabalhar.
Deixa o homem namorar! Deixem ele jogar bola, fazer propaganda, deixem! Não deixaram.
Ele estava acima do peso em 2006? Sim, e você não o convocaria? Em 2002, também não? E em 1998, aquela convulsão está mal explicada? Mal explicado é ter o Zagallo de técnico, amigão.
Eis que agora, ele está de novo no chão. Não precisa fazer inferno com a namorada, ou com o peso, ou com a noitada, ou com a falta de gols. Há um fato de verdade. Os tambores bateram no colo do Fenômeno, martelaram seu joelho.
Agora, reprisa-se os gols, o sorriso, as obras de arte do nosso atacante. Cruel, mórbido. "Será que ele volta?". Urubus.
Ronaldo é o primeiro filho desse futebol moderno. Essa coisa do jogador valer dezena de milhões, ser super-forte, fazer merchandising de tudo, ter dois empresários... ele foi o primeiro rato de laboratório na mão desse meio habitado por ratos de esgoto.
Ele paga o preço por isso. "É um problema congênito no joelho"? "É culpa da preparação física lá em 1995"? Agora, é tudo assunto furado. Na hora de fazer piada sobre a gordura dele, ninguém perguntou se era congênito, ou se era culpa do preparo físico.
Quando ele precisou de paz, ninguém deu. Quando ele precisou de alguma ajuda, ainda que em namoradas, foi só bomba. Alguém aí acha que ele precisa, agora, do apoio dos brasileiros?
Na hora de comemorar as alegrias que ele deu ao Brasil, ninguém lembrou-se das piadas a-lá "Casseta & Planeta" que faziam, à náusea, com ele. Não precisam fingir pena dele.
Se ele se importasse com esse apoio inútil, sequer tinha levantado da cama em 2002. Sequer tinha se recuperado depois de 98. agora Inês é morta, aviso os demagôgos.
Ronaldo, ao contrário, é imortal. Como Di Stefano, Puskas, Cruyff, Eusébio. Só que um passo acima.

Um comentário:

Anônimo disse...

parabens Leandro, 10!

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