Por Gabriel Brito
Brasil e Argentina voltam a campo para mais uma edição do maior clássico do futebol mundial, que por si só já transforma a ocasião em motivo para churrasco, cerveja, camaradas e clima de jogo decisivo.
No entanto, o que parece é que nenhuma das equipes chega ao duelo nas condições mais desejáveis e esperadas. Pelo lado da casa, tem se desenhado um roteiro que para alguns pode ser positivo para o Brasil: time em crise, mal escalado, futebol fraco e técnico contestadíssimo. Pode não ser positivo para amanhã, mas em termos de Copa do Mundo chega a parecer melhor perder o jogo desta quarta (que seria só mais uma frustração recente), entrar em crise irreconciliável e trocar de treinador logo do que rumar para o hexa na África do Sul com Dunga no comando.
Com o crescente costume de avaliar o trabalho de um profissional por um único e obtuso olhar em torno dos resultados, e não também do rendimento apresentado, a primeira derrota em casa na história das Eliminatórias seria realmente providencial.
Porém, ainda prefiro ganhar da Argentina e torcer para que o bom senso esteja presente em nossos tomadores de decisão da CBF e que Dunga seja desligado do cargo qualquer que seja o placar. Nossas exibições no certame até agora, o insuportável esquema com volantes reservas no futebol europeu, o 0-2-agora-não-falta-mais-nada para a Venezuela e a má vontade em se relacionar bem com os principais jogadores do escrete já são motivos mais do que suficientes para que se encerre o estágio concedido pela dona CBF a nosso iniciante capitão do tetra na profissão de treinador.
Do lado argentino, Alfio Basile continua sua busca por impor um estilo argentino, respeitando a velha escola local, para o seu time, que vem de fraca atuação frente o Equador, quando se salvou no último lance. Entretanto, ao contrário do seu par brasileiro, Basile não corre risco no cargo e tampouco tem suas concepções futebolísticas rejeitadas por torcida e imprensa.
Com a obrigação de vencer, o Brasil deve fazer algumas alterações em relação ao time que não coçou o Paraguai nem mesmo com um a mais durante metade do jogo. Saem Diego e Josué, entram Julio Baptista (outro suplente na Europa) e Anderson. De louvável, a tentativa de dar ofensividade e criatividade ao time, ausentes em Assunção, porém, sem um armador de verdade, capaz de organizar e dar ritmo a equipe e ainda por cima com o já desnecessário Gilberto Silva, cada vez mais irritante e impreciso. Adriano e Luis Fabiano disputam a camisa 9, tendo o Imperador ótimas credenciais no jogo, que exatamente por este retrospecto poderia sair jogando.
Pelo lado visitante, sai Demichelis e entra Coloccini ou Gonzalo Rodriguez (bom para nós), enquanto Verón deixa seu lugar para Gago (bom para eles). No ataque, resta a dúvida entre Aguero e Cruz, mais adequado para encarar Lucio e Juan dentro da área, o que claramente lhes faltou contra os equatorianos. Há ainda a possibilidade de se entrar com 3 atacantes e um volante a menos, mas não parece essa a opção mais próxima de ser escolhida.
Para o Brasil, seria bom tentar ganhar o jogo adiantando a marcação, sufocando a saída de jogo e evitando que a bola chegue aos pés de Riquelme e Messi, o que permitiria aos celestes ter o controle do jogo justamente através de seus dois melhores jogadores. Afinal, é muito mais fácil roubar a bola de jogadores como Heinze, Mascherano e Burdisso do que de Roman ou Lio. O Equador fez isso em Nuñez e cortou muitas jogadas argentinas logo na nascente, reduzindo em muito as participações de Verón, Riquelme, Messi e Aguero em todo o jogo.
Apostar em marcação forte em cima de Riquelme e Messi é óbvio e obrigatório, mas poderíamos também nos preocupar em ter jogadores de melhor pé no meio de campo, algo que deveria ser sagrado com amarelinha. A única coisa que não pode acontecer, caso queira-se mesmo vencer o jogo, é deixar com que o toque de bola ‘argento’ se dê em nosso campo defensivo, deixando a partida ao gosto argentino, ou seja, posse de bola em excesso.
Como para amanhã entraremos com a mesma concepção de domingo e da Copa América, resta-nos apostar em um jogo mais físico, de pegada e jogadas em velocidade sempre que possível, de preferência pelas laterais, mais precisamente com Maicon em cima de Heinze. Ficou claro neste ciclo de Basile que os argentinos não suportam muito tal tipo de jogo. Seus jogadores são lentos e privilegiam um jogo mais técnico e sutil sobre o físico. Por isso a saída de Verón para a entrada de Gago é ruim para o Brasil, ainda que a Brujita seja um grande jogador.
Com as cartas na mesa, fica difícil imaginar que a brasilidade divina volte a se manifestar e mais coelhos saiam da cartola canarinha. Os dois estão em momentos instáveis, porém o Brasil caminha para mudanças drásticas e a Argentina já sabe o que quer. Possuem uma mentalidade que não muda há dois anos, enquanto mais uma vez dependemos de acertar uma grande partida isoladamente, o que para o futebol brasileiro é plenamente possível.
Coléra lusitana
Há 13 anos
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